14.12.12

Estávamos sentados sobre as almofadas coloridas que estavam em cima do balcão em mármore, tínhamos papéis e lápis espalhados e os desenhos feitos com borras de café enfeitavam as paredes que se erguiam nas nossas costas. Silabavas-me ao ouvido palavras amorosas e planos para um futuro perfeito enquanto enrolavas uma mexa rebelde do meu cabelo à volta do teu dedo indicador. A música soava baixinho no ponto fuga do estúdio, acompanhava o ritmo com o movimento dos meus lábios. Pensamentos cruzavam-nos a ambos sem nunca dizermos uma palavra, inundávamos-nos de tentação e desejo. Inclinaste-te sobre a bancada servindo-te das minhas pernas como apoio, aproximaste-te, o arco dos teus lábios formava uma curva perfeita, para completar mantinhas o teu sorriso meio provocador, que escondias por detrás do teu lado inocente e que me fazia perder toda a fé em mim própria. Formavas fumo no ar como se de um dragão se tratasse e convidavas-me a sentir o teu calor corporal aumentar, percorri a curvatura da tua espinha com a minha mão. Deixaste cair o teu isqueiro castanho com umas inscrições feitas a preto, marcadas no fundo, afastaste toda a papelada perdida e acariciaste-me a zona da nuca o calafrio que senti fez-me suar, e remexer-me ligeiramente, deixando a minha camisola amachucada por baixo da zona de dobradiça dos joelhos. Fechei os olhos enquanto nos procurávamos mutuamente. E naquele momento podíamos ser a eternidade, porque eu não desejava mais nada, nem precisava, era só de manhãs destas, com café e contigo, juntos, sempre. O som da porta oca fez-te retesar os músculos do braço onde me encostava com segurança. Vestiste o casaco, senti os teus lábios mexerem perto da minha testa, não percebi se tinhas articulado alguma palavra  ou se tinhas apenas emitido um suspiro, beijaste-me por fim na orelha, desligaste a aparelhagem onde suava um disco dos Marron 5, exactamente na parte em que se ouvia o refrão da minha música favorita, and she will... . Não espero ninguém, mas não te preocupes não me vai ocupar muito tempo com certeza, não te vou deixar assim, com meios sorrisos meu amor. Inclinei a cabeça para trás, observando o branco infinito que pinta o tecto, deixei-me ficar assim, à espera que voltasses.

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